Poder da água mineral ressurge em Águas de Lindoia
Terapia da Grécia antiga ressurge com o Dr. Fernando Bignardi
O termalismo é uma prática antiga realizada de diversas formas por diferentes culturas. Algumas dessas práticas quase caíram no esquecimento. Uma dessas terapias, realizada durante a Antiguidade na cidade grega de Epidauro, ressurge agora em Águas de Lindoia.
O médico Fernando A. C. Bignardi* resgatou essa tradição milenar grega. “O tripé terapêutico de Epidauro era: o banho, o sonho e o teatro”, conta. “O que percebemos é que o banho ‘amolece’, para não dizer ‘dissolve’, as couraças, os bloqueios emocionais, e dá novas oportunidades para as pessoas.”
Segundo Bignardi, a terapia de Epidauro é bastante particular por associar o banho, a observação do sonho –havia lugares para as pessoas, após o banho, dormirem– e a cultura e o teatro na forma do psicodrama. Essa é uma das paletas em um vasto universo do termalismo.
“Antigamente, essas terapias eram percebidas, mas pouco compreendidas”, afirma. “Com o advento da física, da biologia, da química, se entende um pouco melhor fenômenos que eram só observados e pouco entendidos.”
Somos feitos de água
Esse tratamento é realizado no Panorama Hotel & Spa, quando o interessado adquire o pacote fechado com a proposta de Bignard. Ele utiliza os banhos e os recursos disponíveis no spa e no Balneário Municipal. A experiência envolve explicações sobre a água e o termalismo, meditação, banhos e a apreensão e reflexão dos sonhos, tal como era em Epidauro.
De acordo com Bignard, que coordena a prática em Águas de Lindoia, tem sido uma agradável surpresa a resposta que as pessoas têm apresentado a esse modelo terapêutico usado na Grécia séculos antes de Cristo.
O tratamento é indicado a qualquer pessoa, preferencialmente a partir da juventude. Segundo ele, todos nós temos situações difíceis na vida que podem deixar marcas, da mesma forma que cicatrizes físicas. “As histórias de vidas deixam marcas no nosso psiquismo. Muitas vezes essas marcas são impeditivas para a realização pessoal”, diz.
“Quanto mais madura a pessoa, mais situações ela passou na vida e pode se tornar um obstáculo para o bem viver”, explica Bignard. “O cotidiano tende a nos afastar da qualidade de vida genuína.”
A ideia é fazer com que a pessoa perceba e conheça o próprio corpo para aprender a lidar com ele e com as leis que o regem. “Como eu posso aquietar a minha mente como a água aquieta minha mente?”
Água e sonho em Epidauro
Por praticamente um milênio (6 a.C.- 5 d.C.) durante a Antiguidade, Epidauro, na Grécia, foi um centro de cura, de cultura e de comércio. A poucos quilômetros de Corinto, a cidade tinha um templo dedicado a Asclépio, que possuía características medicinais e de cura e era filho da divindade Apolo. Lá, as pessoas praticavam a cura pela mente, ou a nooterapia. Nesse método, os pacientes combinavam a hidroterapia, a reflexão e os sonhos.
Os sonhos tinham uma função quase divina. Durante a vigília, Asclépio não visitava os doentes e os aflitos, mas era capaz disso quando eles estavam adormecidos.
Era assim que os gregos buscavam se autoconhecer e resolver problemas físicos e psicológicos que os afligiam. Quando esse tratamento obtinha sucesso, ocorria uma transformação dos sentimentos (metanoia).
Epidauro não era apenas um centro de cura, era também um centro de cultura e lazer. Haviam os ginásios, os poetas que recitavam cânticos, os teatros e a biblioteca. Esse conjunto promovia a ideia de que o homem era a combinação de muitos atributos e que todos eles obedeciam a uma ordem, um cosmo.
Por isso, os tratamentos dessa época eram holísticos, ou seja, levavam em consideração as interações das partes para promover um bem ao todo, pois eram considerados intimamente ligados e inseparáveis.
Isso começou a mudar depois na Idade Moderna, em grande parte, com a publicação de “O Discurso do Método”, de Descartes –obra que foi um divisor de águas no pensamento ocidental. De lá para cá, a experiência corporal subjetiva passou a ter menos importância em relação à observação objetiva dos fenômenos.
* Fundador e diretor do Centro de Ecologia Médica Florescer na Mata, Fernando Bignardi é médico gerontólogo, homeopata, psicoterapeuta, aconselhador biográfico, constelador e consultor organizacional em sustentabilidade e formação de líderes monitores de bem-estar. Ele foi pesquisador da Unifesp, instituição na qual coordenou o Centro de Estudos do Envelhecimento por 22 anos, e fundou o Setor de Transdisciplinaridade aplicada à Saúde do Departamento de Medicina Preventiva. Saiba mais no site: https://www.florescernamata.com.br.